Muitas
vezes repreender os cães não funciona e pode mesmo, agravar o problema. Para
que uma repreensão seja eficaz, devem ser cumpridas três regras importantes.
- A repreensão deve acontecer sempre que o comportamento indesejável ocorrer.
- A repreensão deve ser implementada poucos segundos depois de ocorrer o comportamento indesejável.
- A repreensão deve ser suficientemente grave para que o cão não repita o comportamento indesejável, mas não deve ser grave ao ponto de assustar o animal.
Tal
como se vê nos dois exemplos seguintes, é difícil que uma repreensão cumpra
simultaneamente estes três critérios. É por isso que, frequentemente, as
repreensões não resolvem os problemas e não devem ser o método de eleição no
treino dos animais. O treino com reforço positivo, em que os animais são
recompensados pelos comportamentos adequados, é mais seguro e mais eficaz. As
repreensões ensinam ao animal o que se pretende que ele não faça, mas não lhe
conseguem ensinar o que se espera que ele faça.
Exemplo
A
Problema
comportamental:
O cão salta para cima dos móveis.
Resposta
do dono: Cada vez que o dono vê o cão saltar para cima dos móveis, grita-lhe e
ameaça-o com um jornal enrolado. Quando o dono faz isto, o cão afasta-se dos
móveis.
Resultado: O cão continua a saltar para
cima dos móveis, embora seja menos provável que o faça na presença do dono.
Dado que o cão continua a saltar para cima dos móveis quando o dono não está
presente, acaba por ser parcialmente recompensado por um comportamento
indesejável e a primeira das regras referidas anteriormente não é cumprida.
Assim o castigo não resolve o problema. Se o dono ficar frustrado com o cão é
provável que aumente a gravidade da repreensão e, dependendo do temperamento do
animal, este pode responder manifestando medo do dono e evitando-o. Alguns cães
podem mesmo começar a rosnar e afastar-se quando o dono se aproxima.
Sugestão: É mais provável que se tenha
sucesso bloqueando o acesso do cão aos móveis (p. ex. fechar o cão numa jaula
ou noutra divisão da casa). Alternativamente, o dono pode tornar os móveis
menos atractivos, por exemplo, cobrindo-os com um plástico. O animal também
deve ter ao seu dispor uma cama confortável, colocada próximo dos móveis e deve
ser recompensado sempre que se deitar na sua cama.
Exemplo B
Problema
comportamental:
O cão saúda as pessoas, saltando para cima delas.
Resposta do
dono: Sempre
que o cão salta para cima dos donos, tenta impedi-lo com um joelho no peito ou
dá-lhe um pontapé.
Resultado: O cão evita o marido (pessoa
de maior porte em casa e que o magoou, razão pela qual tem medo dele), mas
continua a saltar para cima das outras pessoas. Muitos cães estão altamente
motivados para saudar as pessoas aproximando-se das suas faces. Na maioria dos
casos, empurrar o cão ou pontapeá-lo é um acto menos poderoso do que o desejo
do cão saltar para cima de alguém. Por outro lado, uma vez que nem todas as
pessoas empurrarão ou pontapearão o cão, a repreensão não cumpre a primeira
regra. A terceira regra também não é cumprida porque o cão nem sempre se
apercebe que o facto e o empurrarem é uma repreensão e, na realidade, voltará a
saltar porque está a atrair a atenção.
Sugestão: Em vez de repreender o cão
por saltar, os donos devem usar o reforço positivo para ensinar o cão a
sentar-se para saudar todas as pessoas. O sentar é um comportamento alternativo
que pode ser recompensado com uma guloseima.
Modificação
adequada do comportamento
Estes
exemplos sublinham o facto de que os três critérios indicados inicialmente não
são cumpridos, os problemas comportamentais podem piorar e a ligação entre o
animal e o seu dono pode perder-se, sem hipótese de ser recuperada. Quando as
repreensões são usadas incorrectamente, parecerão confusas e não previsíveis,
pelo que muitos animais se tornar-se-ão ansiosos e medrosos quando a pessoa que
as pratica está por perto. Quando as repreensões são usadas numa tentativa para
treinar um animal que já tem medo ou ansiedade, estas agravam-se e podem
conduzir à agressividade.
Se
o seu cão tem comportamentos indesejáveis, deve consultar o veterinário, que o
ajudará a desenvolver um método de alteração do comportamento centrado em
reforço positivo, ou que o referenciará para alguém com experiência no
desenvolvimento destes programas de alteração de comportamental.
Fonte: Revista Veterinary Medicine
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